Escrevo aqui o que calha, a calha é grande cabe lá de tudo, todavia acaba sempre por afunilar e então não cabe lá, nem cá, grande coisa.
Se escrevo aqui aquilo que me pinga da mente, me brota da alma, aquilo que gosto ou aquilo que desgosto, se posto aqui, ás postas, ás fatias, ás rodelas ou aos cubos o meu dia a dia mediocre, o pouco que faço ou desfaço, é certo e sabido que só vou ter visitas ocasionais de cortesia dum ou outro amigo ou de algum incauto que pare aqui por acaso por falta de gasolina. É normal, é assim mesmo, aquilo que sou ou que faço não tem interesse para ninguem. Compreendo, aceito. Portanto isto sou eu, uma serie de pequenas coisas sem valor intrinseco de qualquer especie que vou despejando na gaveta da mesa de cabeceira quando mudo de roupa, em transito para o caixote do lixo.
Se quero ser lido, visitado, encontrado, atropelado,e, eventualmente, comentado, tenho que vir nu para o meio da estrada. Sendo que a estrada é constituida pela corrente das palavras-chave do momento ou, em alternativa, por uma especie de picada no meio do matagal de palavras que são sempre obscenas dum modo ou de outro e que por isso mesmo tem sempre montes de procura.
Se quero ser visto tenho sempre que ser de certo modo o bobo da corte, o bobo do corte.
Eu não interesso, tenho que ser outro ou outra coisa para ser interessante, tenho que me disfarçar, tenho que me maquilhar, pintar-me de mil cores ou de cinzentos e pretos misteriosos.
No entanto uma pessoa é aquilo que faz, que apresenta, que desempenha e é em cada amigo, em cada inimigo, em cada leitor ou espectador aquela outra coisa que transparece, aquela pessoa diferente para cada um certo modo.
Procurando ser visto, ser notado, manter a clientela, oriento a minha actuação para agradar a gregos e a irlandeses, e a portugueses emprestando-lhes dinheiro para eles me pagarem as dividas ficando para isso mais endividados para me pedirem mais dinheiro que eu generosamente não tenho mas peço a outros, a juros baixissimos, para lhes emprestar a juros altississimos...perdi-me...
Moral da história
Para mostrar ao mundo que existo, para ser visto, tenho que mostrar aquilo que não sou e passar a ser o que o mundo vê, passar a ser o que não existe.
:)
ResponderEliminarO que aconteceu ao texto original?!!!??
ResponderEliminarNa verdade parece não haver ligação entre título e texto. Mas lógica para quê? Gostei do texto. Quando acabei de o ler já tinha esquecido o título.
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