domingo, 17 de outubro de 2010

Lágrima do mundo


Uma gota transparente, uma lágrima do mundo com muita margem para poemas, para palavras vagabundas, para silêncios eloquentes, para destilar os sentimentos ...

sábado, 16 de outubro de 2010

Esfera armilar

Ora bolas ! Eu que pensava que a esfera armilar era uma cesta para apanhar caranguejos.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Meter o nariz nas coisas dos outros...


Meter o nariz nas coisas dos outros é muito feio mas ninguem deve ter avisado esta Capitites Ramulosa e as cantárides estão tão entretidas que de certo não dão por nada


Foto: Luis Nunes Alberto

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Desconhecido nesta morada


Um belissimo livro que recomendo

...divida...

Conversa de passagem, duas senhoras vão distraidamente olhando as montras e conversando


...é verdade que tenho uma divida que não sou eu que a tenho...

...é o que é...

Conversa de passagem, um homem nos seus cinquentas passa a resmungar puxando nervosamente repetidas passas do cigarro

...são paneleiros... é o que é...são paneleiros...já os conheço...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

poema

Aquilo que corre lá longe
Não corre nem anda
Desanda
É o pó Ema.

Metáforas possiveis

Cada palavra é uma metáfora em si, é que a palavra não é a coisa, é a representação da coisa exterior à dita.
Palavras muito simples, por exemplo se eu digo "tu" ou "ti", construo fora de ti, e fora de mim, uma imagem, uma representação da visão que tenho de ti.
Tudo aquilo que escrevemos ou dizemos, ouvimos ou lemos, são metáforas. Até para reconhecermos e entendermos aquilo que vemos ou sentimos, temos que construir metáforas, representações estáticas ou dínamicas que nós possamos "manejar".
Tudo passa por aí, cada um terá mais capacidade de entender o mundo e de o expressar e comunicar consoante terá mais capacidade de elaborar e construir metáforas.

De facto cada um é as Metaforas possiveis, as que consegue construir.

A pausa

Conversa de passagem, a empregada da loja está à porta e a colega de frente pergunta:

...então vizinha veio dar um pouco à lingua? Não! é a pausa do pó...


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O que diz léxico

Metáfora : A arte de meter para fora

...afiar a lingua...

Conversa de passagem, uma cigana passa meio exaltada


...é comigo, tem vontade de afiar a lingua...

...medo..

Conversa de passagem, uma rapariga de cor agitada passa falando alto para o telemovel

...pois por isso mesmo é que eu tenho medo! não há tanta gente que essas coisas? quem é que me diz a mim que eu não vou ver isso ali...

O que diz Léxía

... as esqualidades e os desfeitos dos nossoss politicos...

domingo, 10 de outubro de 2010

...sede de mundo...


Esta sede de mundo, infinita sede, leva-nos à embriaguez da procura, à loucura de tudo e de nada
e o mundo, o universo e o seu reverso suspensos duma gota d'água, um mar nunca dantes navegado nem mergulhado...


Foto: Luis Nunes Alberto

Esta poesia mata-me...


Para os poetas em falta de inspiração aqui fica um pôr-de-sol irresistível, eu não resisti, desisti.


A poesia derrama-se pelo monte
Bela como o raio que a parta


Foto: Luis Nunes Alberto

sábado, 9 de outubro de 2010

...cortar o sono...

Os falatórios continuaram à sua volta e as piadas trocistas tambem, até já lhe chamavam o "afia-lapis" embora nunca o tivessem visto a afiar nenhum lápis com a preciosa faca.
Certo dia em que afiava mais uma vez a lamina com todo o cuidado, passando-a pela lixa fina ora dum lado ora do outro em gestos firmes e constantes, começou a falar sobre a faca sem que ninguem lhe pedisse nada, falava como se fosse só para ele, uma especie de monólogo, quase um fundo musical para a dança da lamina.
-Não entendem..., nunca poderão entender..., porque é que esta faca deve estar sempre bem afiada, não vêem..., como poderiam ver... ela corta no invisivel... ela corta o sono da tarde, aquele que sempre me atormenta depois do almoço, corta o sono às fatias fininhas e os sonhos nascentes também para que o vento os leve para longe... não, não entendem... mas é melhor assim...
-Pera aí, tu estás a dizer que cortas o sono às fatias?
-Sim corto, mas vocês não o podem ver
-Mas nunca te vi cortar nada... nem fazer o gesto de cortar... pões essa coisa no bolso e pronto
-São mistérios que não consegues ver nem alcançar
-Sabes uma coisa? Tu és completamente maluco! e riu-se alto em grandes gargalhadas.
Durante uns dias foi motivo de chacota de toda a vizinhança
Ah!!Ah!Ah!, cortar o sono ás fatias!!! Ah!Ah!Ah!
Ele não se impressionou com a troça, dia após dia continuou a manter o ritual de afiar a faca.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Era uma vez


Era uma vez num reino distante uma vez que tinha perdido a vez da ultima vez que a vez fora.
-Desta vez não vou deixar passar a vez diz a vez para consigo uma e outra vez, é que se perco outra vez a vez perco-a de vez.
Mas quando foi a vez, a vez já era.

Tradição

A tradição já não é o que era, as tradições tambem já não são o que eram. Muitas, diga-se de passagem, nunca foram até porque nestas coisas é bastante facil uma pessoa enganar-se, umas vezes cai o d, outras foi o d mesmo acrescentado para iludir o pessoal.
Já agora, que vem a talhe de foice, já que a tradição foi-se, quanto tempo é preciso pra fazer uma tradição? Isto parece-me um bocado como os fosseis, têm todos milhões de anos, menos dum milhão não serão fosseis?
As tradições tem que ter muitos anos ao que parece, mas quantos? mil, cem, dez, cinco, três, dois, um? Largadaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
No meio do trovejar e da fumarada acabo de lançar uma tradição pró espaço que estava livre aqui mesmo...

Escritores de gaita rija

Pois sim, escritores de gaita rija, é que neste caso trata se de escrever com esperma fresco a servir de tinta. Factos históricos.
Pormenores aqui

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O inventor de anedotas

Ele gostava muito de anedotas, a bem dizer era mesmo viciado em anedotas, consumias em quantidades apreciáveis, sabia muitas, contava algumas nem mal nem bem dava para entreter os amigos quanto baste. Mas acontece que as anedotas começaram a escassear, já não circulam por aí como andavam dantes, toda a gente contava a sua laracha, "já sabes a ultima?", "contaram-me agora ali uma do caneco". Já não se ouve nada disso, raramente aparecem piadas novas, já não voam, já não andam por aí.
Perante esta situação, vendo-se na eminência de morrer de tédio e tristeza, após longo estudo e profunda merditação, ele resolveu pôr as mãos à obra e começou a inventar as suas próprias anedotas. Umas mais toscas outras mais subtis, mais ridiculas ou mais profundas, lá foi conseguindo animar os seus dias e dar umas gargalhadas genuinamente regeneradoras.
Passou então a inventar as piadas, para de seguida se as contar e depois ria-se à bandeira despregada. Era frequente vê-lo desatar a rir desalmadamente sem razão nenhuma aparente, até houve muita boa gente que começou a interrogar-se sobre a sua saúde mental. Os amigos que já sabiam da história riam-se, esperavam alguns segundos, um minuto ou mais por vezes, que ele se acalmasse e contasse a anedota e riam-se outra vez.
Ele foi assim apurando a tecnica fazendo piadas cada vez com mais graça, mais humor, mais refinadas e sempre da mesma maneira, construía-as com todo o cuidado levando no processo todo o tempo necessário, depois contava-as a si próprio e ria alto e bom som.
Certo dia, enquanto atravessava em passo decidido a praça, ele contou-se toda esta história, contou-se a si próprio como se fosse uma anedota, achou que era tão risível, de morrer a rir mesmo, parou no meio da praça, riu, riu riu sem parar e caiu morto.
Ainda hoje paira entre os amigos como um fantasma, é com um misto de inveja e de temor que todos se interrogam sobre o mistério da ultima anedota... aquela de morrer a rir.